Era eu, naquela época de inverno bastante chuvoso, frio imenso, morando em uma terra que tanto calor fazia, um garoto tão criança que quase não me apercebia dos fatos lá fora da casa onde morava. Na verdade, minha casa parecia uma palhoça escondida entre árvores frondosas e frutíferas próxima ao centro da pequena cidade com menos de 15.000 habitantes na época. Ser criancinha muitas vezes tem dessas vantagens. Enxergar as coisas com uma visão tão infantil quanto surrealista. Acredito que tinha mais ou menos cinco anos de idade quando se deu este fato. Creio no que vi e ouvi. Tenho certeza que meus irmãos que ali estavam presentes também viram e ouviram. O fato é que, depois de algum tempo, algumas pessoas me chamavam de maluco, doido, louco, abestalhado e até de mongol. Como estava ainda desenvolvendo meu corpo físico e a pouca intelectualidade que adquiri, não levava em conta, as babaquices que falavam de mim. 

A casa já estava em ebulição. Afinal, alem de meus pais, eu ainda tinha 14 irmãos e irmãs. Mais exatamente, 09 homens e seis mulheres no total de filhos do casal. Claro que alguns já haviam crescidos e trabalhavam dentro ou fora da cidade. Havia no enorme quintal, no fundo da casa de paredes sem rebocos, sem pintura externa e ainda de chão batido, criações que meu pai cuidava com zelo. Todo final de ano era abatido para a festa da família: um boi, um bode, um carneiro, um peru ou um galo capão. Apenas um animal por vez. Tudo dependia do ano em que a safra era boa e todos estavam abastados.

Naquele dia, um dos irmãos mais velhos, o Toinho, como sempre fazia logo pela manhã, foi alimentar as criações. Eu, magrinho que só a peste, canelinhas secas, pulei da cama quando ouvi aquele linguajar de meu irmão convidando as criações para o banquete matinal. Quando cheguei na saída da porta do quintal ele estava com uma lata de milho na mão, balançando para as criações ouvirem o barulho e chamando: tiu, tiu, tiu, tiu... E era essa, sua forma clássica de falar com os bichos.  Eles compreendiam perfeitamente. Chegavam todos os bichos que estavam soltos pelo quintal e era um alvoroço danado. Galos e galinhas atropelando filhotes, bodes e cabras, carneirinhos e ovelhas, preás, porcos e até pássaros chegavam para usufruírem do banquete servido no horário entre seis e sete horas da manhã de todos os dias. E eram muitos bichos se atropelando para não perderem a refeição. Ás vezes minha irmandade se aglomerava próximo a porta para assistirem aquele belo espetáculo. Pelo menos os meninos, faziam questão de apreciar.

Quando o milho acabava, pois meu pai ensinara a meu irmão qual a quantia certa a ser distribuída, meu irmão simplesmente balançava a lata para mostrar aos bichos que a ração havia acabado. Ele olhava para todos como se dissesse: ACABOU! E virava as costas, entrava em casa com ares de missão cumprida e ia fazer o que tivesse que ser feito. Ora, eu estava observando um pintinho que timidamente se movimentava em busca do alimento mas outros logo tomavam a frente e comiam o que ele pretendia comer. O bichinho estava meio triste ali no canto e parece que só eu tinha percebido. Quando ele viu meu irmão balançar e virar a lata vazia, virar as costas e entrar em casa, eis que falou, como se fosse um grito de socorro, bem assim: TOINHO RUIM QUE NÃO ME DEU MILHO...VRITE! Não pode ser invenção minha. Meus irmãos que ainda estavam presenciando viram e ouviram. Logo depois de falar isso o pintinho correu em círculos empinou o gogó e saiu devagar pelo quintal. De minha parte, pedi ajuda a outros irmãos, peguei mais milho e levei somente para o pintinho faminto. Foi assim que se deu o fato.

Josue Ramiro Ramalho

Salvador Bahia Brasil

Filósofo, Escritor, Educador e Poeta - membro da Academia de Letras e Artes de Lauro de Freitas Bahia, Membro da Confraria de Artistas e Poetas Pela Paz - CAPPAZ, Membro Poetas Del Mundo, Membro da Organização Mundial de Escritores OMS.

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Respuestas a esta discusión

Muchas gracias por compartir, muy lindo!!!

Mui gracias!

Interesante y bonito relato. Abrazonrisas y mis buenas energías, querido Josué Ramiro.

Mui agradecido, Sucesso para todos nós!

Gracias por este lindo relato

Abrazos

mary

Tambien mui agradecido por ti e desejando mui sucesso en su vida

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Ando revisando  cada texto  para corroborar las evaluaciones y observaciones del jurado, antes de colocar los diplomas.

Gracias por estar aquí compartiendo tu interesante obra.

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