Sinfonia do amor
(LHenrique Mignone)


Por vezes te vejo como orquestra e eu, maestro,
A conduzir-te, em busca da maviosa sinfonia,
Nos detalhes deste corpo que acaricio ambidestro,
Atento a ti, a teus solfejos, em perfeita harmonia.
Se de teus lábios que beijo como bocal trompete,
E deles extraio doces murmúrios em noturno,
Sopro teus mamilos, como se flauta, e me arremetes
E os tomo em meus lábios como se sax soturno.
Deslizo pelo teclado de tuas coxas, como piano,
Acariciando suave tua penugem, como se harpa,
Extasiado com o acorde de boleros Ravelianos,
Em gemidos e balbucios que de tua alma escapa.
Toco teus pelos como se cordas de Stradivarius,
Detido em teu grelo, atento à cimbalea suavidade,
Extraindo o néctar de teus acordes anseios vários,
Por momentos fugazes vividos como eternidade.

 
Até então eu te conduzo, assim, passo a passo,
Mesmo que em êxtase, sem nunca perder o nexo,
Até teu coração, como surdo, perder o compasso,
Arrítmico, ao beijar o claríneo bocal de teu sexo.
E se tomas sôfrega em tuas mãos minha batuta
Mágica flauta, gaita, trompete, sax em tua boca,
Não mais maestro, sou instrumento sem labuta,
Acorde contigo nesta uníssona sinfonia louca.
Somos agora, simultâneos, maestros, instrumentos,
Somos músicos, sintonia, somos música estelar,
Que nem Bach, Chopin ou Mozart, por momento,
Mesmo de inspiração suprema ousou sonhar.
Compassos plácidos, ora suaves, ora revoltos,
E, “gran finale”, após instantes de marasmo,
Nossos corpos frementes, trementes, envoltos
Em música celestial, explodem em uno orgasmo.

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